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19 de Abril de 2024

Sergio Moro: Herói anticorrupção ou incendiário?

há 8 anos

Ruth Costas Da BBC Brasil em São Paulo

Sergio Moro Heri anticorrupo ou incendirio

Há dois anos a maior parte dos brasileiros nem sabia quem era Sergio Moro.

Hoje, as milhares de pessoas que têm saído às ruas para protestar contra a corrupção e o governo se unem na admiração pelo juiz de Maringá (PR), responsável pelas decisões da Operação Lava Jato na primeira instância. "Somos todos Moro", dizem cartazes nas manifestações por todo o país.

Para uma grande parte da população, Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, é um herói nacional.

Já simpatizantes do governo o acusam de "agir politicamente" e de inflar os ânimos da população de forma "irresponsável", favorecendo um "golpe" ao revelar o polêmico áudio de uma ligação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff, exatamente no dia marcado para a posse do ex-presidente como ministro-chefe da Casa Civil.

Segundo investigadores da Lava Jato, a ligação sugere que Lula foi nomeado ministro nesta quinta-feira para ter foro privilegiado e fugir do alcance de Moro. Dilma nega e acusa o juiz de "afrontar direitos e garantias da Presidência".

"Todas as medidas judiciais e administrativas cabíveis serão adotadas para a reparação da flagrante violação da lei e da Constituição cometida pelo juiz autor do vazamento", diz nota emitida pelo Palácio do Planalto.

Para Moro, "havia justa causa e autorização legal para a interceptação" e o caso seria comparável ao do presidente americano Richard Nixon, que renunciou em 1974 acusado de obstrução da Justiça.

Sergio Moro Heri anticorrupo ou incendirio

Lava Jato

Muito antes da disputa aberta com Dilma, Moro foi arrastado ao centro da crise política brasileira por fazer na Lava Jato algo sem precedentes: investigar, prender e condenar um grande número de empresários e políticos poderosos.

Até o ano passado, por exemplo, se alguém dissesse que o presidente da maior empreiteira do Brasil, Marcelo Odebrecht, iria para a cadeia por corrupção, poucos acreditariam (há algumas semanas, ele foi condenado por Moro a mais de 19 anos de prisão).

"Moro é parte de uma geração de juízes e promotores que se formou depois da ditadura e que tem uma visão democrática e republicana bastante consolidada", opina José Álvaro Moisés, diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP.

"Ele desafiou essa lógica até então consolidada no Brasil de que quem tem recursos ou poder consegue escapar do alcance da lei."

Há quem tenha uma visão mais crítica – mesmo entre opositores do governo.

Alguns juristas, por exemplo, condenam algumas práticas do juiz na Lava Jato – como os que veem uso abusivo do mecanismo de prisões preventivas.

Mesmo a seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil soltou nota de repúdio às escutas de Lula, na qual diz que o procedimento é "típico de estados policiais".

"É fundamental que o Poder Judiciário, sobretudo no atual cenário de forte acirramento de ânimos, aja estritamente de acordo com a Constituição e não se deixe contaminar por paixões ideológicas", afirma o comunicado.

Sergio Moro Heri anticorrupo ou incendirio

Para Renato Perissinotto, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Moro parece ter um senso de "missão" muito forte mas, no atual contexto, é natural que desenvolva certa "vaidade", que queira fazer "história" – e isso influencie seu trabalho.

"Apesar de aparentemente ele não ser partidário, sua atuação acaba tendo um caráter político", diz.

"Ao que tudo indica, essa operação (Lava Jato) vai pegar todo mundo. Vai colocar em xeque o próprio sistema político, que sempre funcionou com base em caixa 2. Mas o problema é que não sabemos o que vai surgir com o colapso do sistema. Pode não ser algo melhor. Podemos ter a ascensão de um líder radical. Enfim, tudo é possível."

Tido como sério e reservado – mas com um senso de humor refinado – Moro é filho de um professor de geografia e cresceu em uma família de classe média de Maringá.

Ele se formou em Direito em 1995 na Universidade Estadual de Maringá. E em uma palestra para estudantes, recentemente, confessou que até mais da metade do curso se questionava se havia feito a escolha certa.

Mas se havia dúvidas, elas parecem ter durado pouco. Em 1996, com apenas 24 anos, Moro passou em um concurso para se tornar juiz federal. Fez mestrado e doutorado, estudou na escola de direito de Harvard e participou de programas de estudos sobre o combate à lavagem de dinheiro do Departamento de Estado dos EUA.

"Ele é extremamente estudioso e as experiências internacionais parecem ter ajudado muito em sua formação. Cada vez que viaja volta com um monte de livros", diz Carlos Zucolotto, amigo de Moro e de sua mulher, Rosângela, que chegou a trabalhar em seu escritório de direito trabalhista no Paraná.

Sergio Moro Heri anticorrupo ou incendirio

Em 2003, com apenas 31 anos, Moro pegou seu primeiro grande caso: o Banestado, em que investigou a remessa ilegal de US$ 30 bilhões ao exterior entre 1996 e 2002.

Em 2004, participou da Operação Farol da Colina, na qual dezenas de doleiros foram presos. Em função dessas duas experiências, em 2012 foi convocado pela ministra Rosa Weber para auxiliá-la na investigação do mensalão.

"Ele dava aula na UFPR, que tem muitos acadêmicos de esquerda, e lembro que sua atuação no mensalão causou um certo mal-estar", diz um jurista do Paraná.

Hoje, sites e blogs de esquerda acusam o magistrado de ter ligações com a oposição. Um deles chegou a publicar que sua mulher seria advogada de um político do PSDB – o que ela nega. Outro diz que o pai do juiz teria sido filiado.

"Conheço a família há muitos anos e posso garantir que essas acusações são absurdas e já foram desmentidas", diz Zucolotto. "Nenhum deles tem ligações com partido algum."

Um bom ponto de partida para se tentar entender a cabeça de Moro é o artigo que ele publicou em 2004 na Revista Jurídica do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) sobre a megaoperação italiana conhecida como Mãos Limpas (Mani Pulite), que precipitou o colapso dos partidos tradicionais desse país e serviu de inspiração para a Lava Jato.

Sergio Moro Heri anticorrupo ou incendirio

Lá, ele defende práticas e princípios que, mais tarde, gerariam alguma polêmica também no Brasil, como o uso das delações premiadas e das prisões preventivas para se avançar nas investigações, os vazamentos à imprensa e a importância de uma opinião pública engajada para o sucesso da operação.

"Sobre a delação premiada, não se está traindo a pátria ou alguma espécie de 'resistência francesa'", escreveu o juiz em 2004.

"Um criminoso que confessa um crime e revela a participação de outros, embora movido por interesses próprios, colabora com a Justiça e com a aplicação das leis de um país."

Para um jurista crítico, que frequentou a UFPR quando Moro era professor, "ele sabe que para conseguir as informações necessárias para avançar rapidamente nas investigações precisa agir ali no fio da navalha, no limite da legalidade, sempre justificando suas escolhas".

Sobre os vazamentos à imprensa, por exemplo, o juiz defendeu o seguinte no artigo da CEJ:

"A publicidade conferida às investigações teve o efeito salutar de alertar os investigados em potencial sobre o aumento da massa de informações nas mãos dos magistrados, favorecendo novas confissões e colaborações. Mais importante: garantiu o apoio da opinião pública às ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados, o que, como visto, de fato foi tentado."

No texto, Moro estava se referindo à Operação Mãos Limpas. Mas não é difícil ver como as suas justificativas para os vazamentos das ligações de Lula cabem hoje nesse mesmo raciocínio.

*Colaborou Camilla Costa, da BBC Brasil em Londres

FONTE: BBC BRASIL


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Um grande abraço!

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35 Comentários

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Não sei se Moro é herói ou mesmo imprescindível, mas foi e ainda é importante para a continuidade na faxina que hoje se procura fazer na política brasileira.
Claro que virou o centro das atenções e não poderia mesmo ser diferente, pois ele encarnou em uma figura jurídica, o diferencial do lícito e do ilícito.Mas não basta Moro. Precisamos que cada magistrado se envolva e faça a sua parte.
Sergio Moro hoje luta contra duas frentes.
A frente dos corruptos por ele processados e a frente dos poderes camuflados (Jânio chamou de forças ocultas....) onde se escondem verdadeiras ratazanas que se alimentam da contra-democracia.
Não deve ser fácil a perfeição, principalmente quando tantos olhos treinados buscam um único erro.
Não deve ser fácil comprovar de forma irrefutável evidências claras de tantos crimes.
Não podemos ainda prescindir de Sergio Moro. Ainda engatinhamos sobre os tapetes macios de uma cidadania iniciante. continuar lendo

Eu ainda não formei uma opinião sobre tudo isso.
Acho que ele adota medidas perigosas e totalmente tendenciosas, o que traz o perigo.
Vamos aguardar e ter cautela, pois podemos estar dando muito poder a ele e ele, como qualquer ser humano, é cheio de ego e vaidade.
A "sorte" do governo é que a oposição está tão suja quanto, de modo a fazer com que eles fiquem mudos diante de tanto escândalo.

Um grande abraço continuar lendo

Eu entendo que a figura do juiz politicamente correto é o que qualquer corrupto deseja, pois todo o "sistema" estaria preparado para neutraliza-lo rapidamente. continuar lendo

Não se trata de ser politicamente correto, mas de observar preceitos constitucionais.
Aceitar que os fins justificam os meios possibilita a tomada de qualquer atitude. continuar lendo

Deu publicidade as escutas telefônicas e determinou sigilo e remessa ao STF da lista da Odebretch, por atitudes tão díspares eu não acredito em sua imparcialidade.
Quando ele busca apoio da opinião pública, o faz para garantir a continuidade do trabalho para o bem coletivo e proteger sua própria vida ou para manipular as pessoas com a sua perspectiva político-partidária e satisfazer seu ego? continuar lendo

Pois é, Verônica, tenho medo que a operação lava-jato tenha começado muito bem, mas desandado por conta de excesso de vaidade.

Vamos ver o que nos espera.

Um grande abraço continuar lendo

Participo e leio comentários no Jus-Brasil há naos e não vejo quase ninguém criticar a "constituição de 1988" dita cidadã, mas que para mim está repleta de falhas.Poucos são aqueles que a criticam, e eu sou um desses.
Nossa malfadada constituição apresenta mais de 200 artigos (muitos nem regulamentados), conta com quase 100 emendas (o que é um absurdo) e por ter sido feita por parlamentares do naipe de um Lula da Silva,Maluf, Ulisses e outros, foi preparada para defender as três classes (castas) existentes no Brasil a saber:Executivo, Legislativo e Judiciário esquecendo-se completamente do povo, a verdadeira razão de existir um estado democrático de direito.
No artido 5º diz: "Todos são iguais perante a lei", será mesmo?Não me parece que isso seja aplicado, vejamos; o ex-senador Luis Estevão condenado em 2006,através de seus advogados entrou com 34 recursos protelatórios e só foi preso agora em 2016, isso significa que somos todos iguais perante a lei ou quem tem mais dinheiro consegue em muitos casos se livrar da cadeia?
Passou da hora de uma nova constituição ,com menos artigos e mais objetiva que vise em primeiro lugar o bem estar da população de forma geral, e não protegendo os ocupantes dos três poderes como é hoje. continuar lendo

Ele esta sendo partidariamente correto, rs, ótima colocação Veronica.. continuar lendo

Se á memória não falha, existia um precedente que era utilizados pelos brilhantes Advogados Criminalistas que entravam com recursos até á prescrição das penas.Alguns figurões corrupto da política, sabia que como poderia sair de uma condenação.Em meus 49 anos, nunca na história deste país, descortinar tamanha corrupção dos políticos, empresários e agentes públicos sendo condenados e presos.Está pode ser considerada á maior revolução do sistema jurídico do Brasil.Quero que incendei o Brasil colocando todos os corruptos na cadeia seja qualquer partido ou político.
Nota: Quem defendia estes grandes corruptos em anos anteriores, deveria pensar na sociedade que enquanto eles os defendem, toda nação é que sofre.Temos que pensar e refletir sempre. continuar lendo

Sem dúvidas, todos (ou quase todos) querem a condenação dos envolvidos, sejam lá quem são.

O problema é que não podemos passar por cima de regras para alcançar um objetivo, se não fica perigoso. continuar lendo

Se solicitar o direito a ampla defesa do contraditório, ou solicitar um HC preventivo estaremos mais uma vez á estaca zero pois estas prerrogativas de acesso ao inquérito oferece um recurso que sendo bem utilizado pelos defensores, não colocaria estes criminosos da nação na cadeia.Penso que uma mudança urgente na legislação, conseguiríamos um manto protetor evitando á corrupção. continuar lendo

Não é só a questão de ampla defesa/contraditório, José. Temos grampo em telefone de advogado, do escritório de advocacia, vazamento seletivo de informações (vaza o áudio do ex-presidente, mas esconde a lista de políticos), ...

Vamos ver o que vai dar. continuar lendo

Como podem chamar de grampo se o próprio grampeado fazia questão de mandar recado para a Receita Federal através do telefone?
Lula sabia que estava sendo gravado e mesmo assim afrontava o sistema. Pelas gravações se apura que ele também sabia dos passos que a PF estava tomando, com antecedência.
E aí? Isso é considerado grampo? Se for grampo, podemos considerar que o grampeado, ou se acha inatingível ou sofre de falta de massa cinzenta.
Você usaria um telefone que vc sabe estar grampeado? continuar lendo

Gozado! Faltou falar que o resultado o banestado foi minimo. E além do mais aquela declaração de não ter encontrado nada de ilícito sobre os outros suspeitos. Fez-me perder o respeito q tinha desse propenso "herói". Minha opinião é q vão ferrar só PT e demais vão sair de boa. E esse 'camarada' vai aparece como o "herói da elite". Espera para ver e buscar informações do banestado na internet e jornais antigos. continuar lendo