Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
20 de Abril de 2024

Fotos expõem superlotação e 'cela de castigo' em Pedrinhas

Vinte e quatro detentos se amontoam numa cela projetada para abrigar apenas quatro, onde dormem sobre o concreto, sem colchões nem travesseiros. Em outra cela, 22 homens passam dia e noite trancados num espaço escuro, úmido e sem ventilação – alguns usam as próprias camisas para enxugar vazamentos que inundam o piso.

há 8 anos

Fotos expem superlotao e cela de castigo em Pedrinhas

Retratadas em fotos obtidas com exclusividade pela BBC Brasil, as cenas expõem a precariedade em partes da penitenciária de Pedrinhas, em São Luís, em meio a uma nova onda de violência no Maranhão, dois anos e meio após a unidade se tornar notícia mundo afora por um vídeo que mostrava presos decapitados.

Desde o dia 30 de setembro, três detentos foram encontrados mortos dentro de Pedrinhas, o que eleva para ao menos 79 o total de óbitos registrados na unidade desde 2013, segundo ONGs que monitoram a prisão.

As seis fotos recebidas pela BBC Brasil, cujos autores pediram anonimato, foram tiradas em três edifícios do complexo penitenciário, o maior do Maranhão.

Hoje chefiado por Flávio Dino, do PCdoB, o governo maranhense não contestou a veracidade das imagens, mas disse que "problemas estruturais históricos" das prisões locais vêm sendo sanados e que na atual gestão o número de mortes em Pedrinhas despencou.

A BBC Brasil mostrou as fotos a duas organizações que acompanham a situação no presídio – a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e a Conectas –, que visitaram os mesmos locais no fim de setembro e disseram ter presenciado condições semelhantes.

Fotos expem superlotao e cela de castigo em Pedrinhas

Denúncia

Uma das cenas mais insalubres retratadas é a de uma cela de "castigo" do presídio. Segundo advogados das duas ONGs, nessas celas – destinadas a presos que cometem infrações dentro da prisão – muitos detentos dizem passar dias sem conseguir dormir por causa do calor e da umidade.

Os rostos dos presos foram borrados nas fotos para proteger suas identidades.

"Submeter detentos a essas condições equivale a submetê-los à tortura", diz o advogado Rafael Custódio, da Conectas.

Ele diz que a ONG estuda apresentar uma denúncia formal contra o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos, na Costa Rica, por causa "das permanentes violações de direitos humanos" no presídio e da lentidão das autoridades em tomar providências, mesmo após cobranças do próprio tribunal e de outros organismos internacionais.

Outra foto, tirada numa cela de triagem da prisão, mostra como 24 detentos dividem o espaço à noite. Alguns precisam abrir as pernas ou dobrá-las para que outros possam se esticar. No fundo da cela, um detento se deita junto ao buraco que serve de latrina.

Uma norma da penitenciária diz que as celas de triagem deveriam abrigar detentos recém-chegados a Pedrinhas por no máximo dez dias, até que sejam transferidos para celas comuns.

Mas Rafael Custódio, da Conectas, afirma que a regra não é cumprida e que alguns presos lhe disseram ter passado mais de um mês na triagem.

Fotos expem superlotao e cela de castigo em Pedrinhas

Desde o dia 30 de setembro, dois presos – Fábio Roberto Costa Pereira, de 29 anos, e Jarlyson Belfort Cutrim, de 21 – foram encontrados mortos em celas de triagem do presídio, e um terceiro detento, Jhonatan da Silva Luz, de 20 anos, morreu em outro local.

O governo maranhense diz que os casos estão sendo investigados.

Sem uniformes

Outras duas fotos mostram detentos de cuecas em celas comuns. Segundo Diogo Cabral, advogado da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, muitos presos em Pedrinhas ficaram sem uniformes depois de os terem rasgado em um protesto contra as condições no presídio, no fim de setembro.

Cabral diz que muitos presos relataram ter sido atacados com spray de gás pimenta e balas de borracha durante os protestos.

Ele afirma que a precariedade na penitenciária agrava as tensões que resultaram nas últimas mortes de detentos e numa série de ataques a ônibus e escolas ocorridos no últimos dias no Maranhão.

Em resposta aos atentados, que segundo autoridades foram coordenados de dentro da prisão, o governo maranhense transferiu 23 presos de Pedrinhas para uma penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Em nota à BBC Brasil, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) defendeu a atuação do governo Flávio Dino no setor. O governador tomou posse em 2015, interrompendo um domínio de meio século da família Sarney no Maranhão.

A secretaria diz que problemas das prisões maranhenses têm sido solucionados com um "forte e contínuo investimento do Executivo", e que obras realizadas desde o início da gestão criaram 946 vagas em presídios.

Fotos expem superlotao e cela de castigo em Pedrinhas

O órgão diz ainda que, apesar da crise que se instalou em Pedrinhas a partir de 2013, conseguiu alcançar "uma marca histórica de um ano e cinco meses sem registros de mortes" na unidade.

Para a Conectas e a Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos, o número de mortes só baixou porque o governo passou a separar os presos conforme suas organizações criminosas. "O governo sucumbiu à lógica das facções", diz Diogo Cabral, da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos.

Já o governo maranhense afirma que a organização de presos por grupos criminosos "é uma recomendação da própria Lei de Execucoes Penais, que em seu artigo 84 estabelece que 'o preso que tiver sua integridade física, moral ou psicológica ameaçada pela convivência com os demais presos ficará segregado em local próprio'".

Em 2013, quando pelo menos 60 presos morreram em Pedrinhas, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos passou a acompanhar o caso e a cobrar respostas do Estado brasileiro sobre as denúncias a respeito do presídio.

Processo internacional

No fim de 2014, o caso subiu para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que determinou que o Brasil adotasse medidas "para proteger eficazmente a vida e a integridade pessoal de todas as pessoas" em Pedrinhas.

Fotos expem superlotao e cela de castigo em Pedrinhas

Embora a prisão seja responsabilidade do governo maranhense, cabe ao governo brasileiro se pronunciar sobre os casos que envolvem o Brasil na corte. As exposições são feitas em coordenação com governos estaduais e municipais, quando necessário.

No processo sobre Pedrinhas que tramita na corte hoje, não há propriamente um réu. Por isso o tribunal não pode condenar o Brasil, como aconteceu com o país por não ter levado à Justiça responsáveis por atrocidades da ditadura militar.

Para que o Brasil possa ser julgado por Pedrinhas, é preciso que a corte interamericana aceite uma denúncia formal contra o Estado brasileiro por sua atuação em relação ao caso.

As ONGs que acompanham o assunto dizem estudar a possibilidade de apresentar a denúncia à corte.

NOTÍCIA ORIGINALMENTE PUBLICADA POR BBC BRASIL.


Finalmente, aproveito para te convidar a ACESSAR MEU BLOG. Lá tem textos como esse e muito mais!

Gostou da notícia? Recomende a leitura para outras pessoas! Basta clicar no coração que fica na parte esquerda do texto.

Comente também! Mesmo se não gostou ou não concordou.

Para atingir um resultado maior e melhor, o assunto deve ser debatido e as opiniões trocadas.

Um grande abraço!

  • Sobre o autorAdvogado Criminal, Professor e escritor.
  • Publicações451
  • Seguidores3622
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações4031
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/fotos-expoem-superlotacao-e-cela-de-castigo-em-pedrinhas/392452040

Informações relacionadas

Canal Ciências Criminais, Estudante de Direito
Artigoshá 7 anos

O castigo dentro do castigo: a imposição do RDD a partir da falta grave

Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
Notíciashá 16 anos

Os direitos fundamentais do cidadão preso: uma questão de dignidade e de responsabilidade social - Lizandra Pereira Demarchi

Editora Revista dos Tribunais
Doutrinahá 3 anos

Proteção Internacional aos Direitos Humanos do Ser Humano: Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948

Fabiany Leitão Porto, Advogado
Artigosano passado

Trabalhador, pode retornar ao trabalho, mesmo incapacitado?

Fabiany Leitão Porto, Advogado
Artigosano passado

Segurados da Previdência Social

21 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

Para quem afirme que a exclusão social não é a principal nascente da criminalidade, peço quantificar nesse meio, quantos detidos vem da classe média/alta e quantos vem das classes sociais inferiores.
Se prisão assustasse, esses indivíduos jamais iriam voltar à criminalidade para não correrem o risco de serem presos de novo.
Por isso matam para não serem identificados. Por isso não tem respeito pela vida alheia. Por isso afirmam não terem nada a perder.
O sistema penal/prisional do Brasil está ultrapassado e falido. Se entendem que prisões são mais do que simples paliativos, acho melhor separarem um estado e cercar, porque quantos presídios forem construídos, serão superlotados em pouco tempo.
Não se trata de indulto ou de impunidade, mas de discernimento e lógica, porque do jeito que está, todos somos vítimas. Os presos e nós, que imaginamos estarmos vivendo em liberdade.
O problema não é apenas a pobreza, mas o que ela traz como consequência que é a falta de futuro, de educação, de objetivos, de oportunidades.
Todo preso vira um mero consumista, nada produz, vira peso para ser carregado por quem vive do trabalho. Ou acabamos com a segregação social, ou ela acaba conosco. continuar lendo

E quantos das classes sociais inferiores não são criminosos? A grande maioria! continuar lendo

Bastante racional. continuar lendo

Conforme o texto:

- ficaram sem uniformes depois de os terem rasgado em um protesto contra as condições no presídio, ...

Nossa que situação triste, eles rasgaram o uniforme e ficaram sem, e nós trabalhadores que temos que pagar o uniforme ...

Interessante a situação dos presídios mas vamos fazer uma acordo então, eles começam a trabalhar para melhorar o presídio, fazem uma reforma, limpam o local, fabricam uniformes novos, camas, roupas de cama, móveis, podemos ir além, vamos fazer uma quadra de esportes, um pomar, uma horta...

Dessa forma todos ganham, eles aprendem uma nova profissão, descobrem talentos, tem uma condição melhor de estadia no presídio e quem sabe não podemos ter a colaboração deles em obras populares como casas, saneamento básico, mediante claro pagamento de salário...

Obrigatório a todos sem exceção, dentro das condições físicas de cada um, quando eles saíssem teriam uma nova profissão, e ainda vão experimentar a vasta experiência de trabalhar para ter comida, roupa e teto ...

Claro que teremos aqueles que vão se impor, dizer que isso não é justo, não é humano, é exploração, trabalho escravo, também concordo, acho um absurdo todos nós trabalharmos para termos nossas condições de vida melhores, e eles não .... continuar lendo

@estefaniadrechsler Você falou em trabalhar? Isto não encaixará bem neste lugares.

De qualquer forma, acredito que o ESTADO deve agir e colocar todo preso para trabalhar, salvo exceções (doentes, gestantes), etc, de forma racional, o preso comerá e terá seus direitos assegurados mediante trabalho, 8 horas ao dia concorda? continuar lendo

Perfeito.

Nós somos obrigados a trabalhar para ter o que comer e vestir, mas eles não ... que justo. Se eles não podem trabalhar lá o que vamos esperar que eles façam quando forem soltos? Trabalhem?

O problema da população carcerária está principalmente na nossa cultura ... qualquer discussão de trânsito se mata, leva chifres e mata, discute futebol e política no bar e matam, ao invés de se trabalhar duro durante anos muitos preferem roubar e vender drogas ... nossa sociedade é violenta e imediatista e isso tem que mudar culturalmente.

Ademais prisão só irá recuperar alguém se este também estiver afim de ser recuperado ... pode fazer suítes revestidas e ouro e seda, se quiserem ser criminosos ao invés de trabalhar e de matar por qualquer besteira não tem jeito.

Fico pensando como podemos esperar algo melhor se hoje se bate em pai, mãe e professores e nada pode ser feito de efetivo para disciplinar ... é um não me toque insustentável. Por que será que nossa sociedade educada de forma "primitiva" não era deste jeito? continuar lendo

Com certeza o ócio não recupera ninguém. continuar lendo

E não se trata da falta de presídios, podemos construir quantos quisermos que superlotaremos todos eles.
Enquanto não mudarmos o foco da ação estatal, deixando de ser exclusivamente punitivo, não sairemos do lugar. continuar lendo

A população carcerária está cada vez maior e o crime cada vez mais organizado. continuar lendo

Mas enquanto não entendermos, @paulodantas , que prender por si só não serve para diminuir a criminalidade, só tende a crescer. continuar lendo

E mesmo assim eles não temem voltar para o mesmo lugar. continuar lendo

Justamente por isso é feita a indagação: pra que serve o sistema penal? Pq não est´impedindo ninguém de praticar crime. continuar lendo

Para esse argumento eu te apresento dois trechos da música "Um homem na estrada" do Racionais Mc´s que fala um pouco sobre os problemas vividos por um ex presidiário, o contexto social em que este etá inserido. Muito boa a música, que além da letra, o instrumental é sensacional, pois, é tirado da música "ela partiu" do Tim Maia.

"Um homem na estrada recomeça sua vida.
Sua finalidade: a sua liberdade.
Que foi perdida, subtraída;
e quer provar a si mesmo que realmente mudou,
que se recuperou e quer viver em paz, não olhar
para trás, dizer ao crime: nunca mais!
(...) A Justiça Criminal é implacável.
Tiram sua liberdade, família e moral.
Mesmo longe do sistema carcerário,
te chamarão para sempre de ex presidiário." continuar lendo