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26 de Abril de 2024

Professor confundido com ladrão é linchado e preso em São Paulo

André Ribeiro treinava corrida quando foi espancado pela vizinhança. Ele conseguiu ser solto após dar uma aula sobre Revolução Francesa a um dos bombeiros que o socorreu

há 8 anos

A notícia não é nova, mas é sempre atual.


A tragédia do Guarujá - onde uma dona de casa foi linchada até a morte após ser confundida com uma sequestradora de crianças - quase se repetiu em São Paulo na semana passada. O professor de história André Luiz Ribeiro, de 27 anos, corria seus dez quilômetros diários pelas ruas do extremo Sul da capital quando foi acorrentado e espancado por moradores que o confundiram com um ladrão.

Professor confundido com ladro linchado e preso em So Paulo

A história começou por volta das 19 horas do dia 25 de junho, quando o bar do comerciante Djalma dos Anjos foi assaltado na Rua Doutor João Baptista Gomes Siqueira. Com o filho a tiracolo, a vítima saiu em busca do ladrão. Não demorou muito para avistar Ribeiro, que passava correndo pela rua usando roupa de academia: camiseta, short e tênis próprio para exercícios. Em alta velocidade, o fusca do comerciante quase o atropelou. Ribeiro levou as mãos ao alto, achando que seria assaltado. "Eles não falaram nada e começaram a me bater. Me deram um mata-leão e não tive mais forças. De repente, foram chegando umas quinze, trinta pessoas, não lembro ao certo. Só via pernas. Todo mundo começou a me espancar."

Já caído no chão, Ribeiro viu o dono do bar pegar uma corrente no carro e amarrar suas mãos e pernas. "Você já viu O Homem Elefante? Foi o que aconteceu comigo. Fiquei como um bicho", diz, referindo-se ao filme de 1980 do diretor David Lynch que conta a história de um homem com uma deformidade facial grave que é exposto em circos como uma aberração. Além das dores no corpo e da situação humilhante, Ribeiro começou a achar que não sobreviveria ao linchamento quando ouviu alguém do grupo gritar: "Pega o facão".

Aula de Revolução Francesa

Nesse momento, um carro do Corpo de Bombeiros passou pela rua e parou. A turma de linchadores se dispersou, sobrando apenas Ribeiro, o dono do bar e seu filho, que iniciaram a agressão. Um dos bombeiros ouviu toda a história - o comerciante dizia ter certeza de que aquele era o ladrão, enquanto Ribeiro insistia que era apenas um professor de história da Escola Estadual Professora Juventina Domingues Marcondes de Castro, com alunos de sétima e oitava séries. "Eu estava sem documento, eles não acreditaram. Nem tiro a razão deles, moro na periferia e sei como é".

Ainda na dúvida, um dos bombeiros lançou a prova de fogo: se ele era professor, que desse uma aula sobre Revolução Francesa ali mesmo. "A Queda da Bastilha, no dia 14 de julho de 1789, foi determinante para a ascensão da burguesia francesa como classe política dominante, já que até ali eles já exerciam poder econômico. O lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade...", ensinou Ribeiro, ou Professor Andrezão, como é conhecido entre os alunos adolescentes.

Mesmo convencendo os bombeiros, Ribeiro foi levado para a delegacia. Por causa do depoimento do dono do bar, ele ficou duas noites preso, uma delas em uma cela minúscula dividida com outro detento. Foi transferido para uma maior quando seu advogado trouxe seu diploma de ensino superior. Só foi solto quando a mulher do comerciante prestou depoimento dizendo que, talvez, Ribeiro não fosse realmente o ladrão do bar. Ainda assim, ele responde em liberdade provisória um processo por roubo.

Nesta terça-feira (1), às 18 horas, familiares e amigos do professor organizam um protesto contra a injustiça em frente ao 101º DP, onde Ribeiro ficou preso. Apesar dos hematomas - ele ainda sente muitas dores de cabeça e tem lesões nas pernas e braços -, ele diz que o trauma ficou no passado. "Alguns amigos falaram para tirar uma licença, mas não quero. Vou voltar a dar aula, que é o que eu amo fazer. Meus alunos precisam de mim."

Fonte: VEJA SP


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28 Comentários

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É claro que, neste caso é muito errado. Mas fosse ele culpado, seria tão errado quanto. Mas este tipo de coisa acontece por um motivo único: Impunidade. As pessoas estão cansadas de ser vítima. Pensa, raramente marginal é localizado e ainda mais raro ser punido (ainda que com as penas ridículas).

As pessoas se cansaram da omissão do Estado e passam, então, a fazer justiça com as próprias mãos. continuar lendo

E é aí que mora o perigo. A população, com a sensação de impunidade, acha que tem o direito de atacar seus integrantes, mas sem nenhum meio justo para isso. Apedrejamos uma pessoa que nem sabemos quem é, o que fez, o que faz...
E a situação é tão séria que, se a agressão já estiver acontecendo, quem chegar já vai logo metendo a porrada sem nem antes buscar saber o que se trata.
Aí, se não fosse o bastante td essa revolta, ainda temos incendiários que só prestam desserviços (políticos, jornalistas, políticos jornalistas, dentre tantos outros que deveriam ajudar, mas só prejudicam).
Enfim.. continuar lendo

Por isso voto Bolsonaro em 2018. Para que as leis sejam mais duras contra os "amigos do alheio e inimigos da vida" no afã de que situações iguais à relatada no presente artigo sejam apenas uma mera lembrança ruim de uma época em que o PT estava no poder e dava guarida e apoio (direitos "dus manu") tão somente aos marginais, nunca às vítimas, que, indefesas e cegas pela sensação de impunidade, acabam se tornando justiceiros, vitimando (como fora no presente caso) inocentes e perpetrando a injustiça que visavam combater. continuar lendo

Mas vc acha, Antônio, que o Bolsonaro vai ajudar a evitar ações como essa ou vai incentivar a população a se revoltar ainda mais? continuar lendo

Não seria porque ele não é loiro de olhos azuis. continuar lendo

Eu me envergonho em nome do povo brasileiro.
Gostaria de me desculpar com esse professor, mas argumentar que infelizmente o povo brasileiro, que é bom e justo por natureza, pode errar porque está incrédulo da justiça.
Precisamos com urgência reverter esse quadro. continuar lendo

E tem gente (e muita) que defende a agressão de pessoas suspeitas de praticar crimes.
Inclusive, é bem capaz de alguém vir aqui arrumar alguma desculpa para a prática de atos tão ridículos como esse.

Enfim, coisas de uma sociedade que ainda tem muito o que evoluir.

Um grande abrço! continuar lendo

É Pedro..eu não me orgulho nada disso mas entendo a revolta da população.
Que triste tudo isso.
Mas vai mudar. Vamos acreditar! continuar lendo

Que bom que ele foi solto....espero que nenhum professor passe mais por isso. continuar lendo

Nenhum professor e mais ninguém! continuar lendo

O ônus da prova se inverteu, coisa de maluco, vergonha de ser brasileiro.
Perguntinha, como ficam os agressores?
E o dono do bar, que também praticou a agressão injusta? continuar lendo

Isso pouco importa, né?! A não ser se for você o agredido.

As coisas são complicadas de mais pra minha cabeça. continuar lendo