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26 de Abril de 2024

As babás brasileiras humilhadas e sexualmente assediadas na Irlanda

"As crianças jogavam as coisas no chão e diziam 'pega escrava'". "Minha refeição era inferior à do restante da família". "De repente, senti um negócio duro nas minhas costas, ele se esfregando em mim". Babás na Irlanda, jovens brasileiras relatam assédio e humilhações

há 8 anos

As babs brasileiras humilhadas e sexualmente assediadas na Irlanda

As crianças não me respeitavam. Jogavam as coisas no chão e diziam ‘pega escrava‘”. “Minha refeição era inferior à do restante da família“. “De repente, senti um negócio duro nas minhas costas, ele se esfregando em mim“. As frases acima retratam as humilhações e agressões pelas quais algumas jovens brasileiras de 20 a 39 anos vivenciaram trabalhando como babás na Irlanda. De acordo com dados do setor de imigração irlandês, cerca de 12% dos estrangeiros não europeus no país são brasileiros, o país aparece em segundo lugar na lista de solicitação de visto.

Diferentemente dos EUA, por exemplo, a Irlanda não possui um programa de au pair –projeto que envolve jovens de diferentes países, que vão morar com uma família estrangeira e tem como objetivo aprender o idioma nativo, cuidar das crianças, além de receberem um salário– regulamentado no país. E por conta da informalidade os abusos acontecem.

Atualmente, mais de 20 mil famílias no país europeu utilizam os serviços de babás, mas pagam apenas 2,50 euros por hora em uma jornada de 40 horas semanais, valor abaixo do mínimo irlandês (9,15 euros por hora). Os dados são de uma pesquisa da ONG MRCI (Migrant Rights Centre Ireland). Segundo o agente de políticas do MRCI, Pablo Rojas, disse à BBC no ano passado, dos mais de 35 casos de exploração registrados em 2015, cerca de 75% envolviam cidadãs do Brasil.

Recém-formada em ciências sociais pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Bruna Saldanha, 22, resolveu embarcar com o noivo para Dublin há quatro meses. Querendo aprender inglês e vivenciar uma nova cultura, a carioca aceitou trabalhar como au pair na casa de uma família irlandesa e, em troca, poderia morar na casa nos fundos.

Como de costume, a remuneração estava abaixo do previsto por lei, apenas 480 euros mensais por uma jornada de 20 horas semanais (período máximo permitido por lei para estudantes estrangeiros). Durante a entrevista de emprego, ficou acertado que ela cuidaria apenas das crianças. “Em pouco tempo estava passando, cozinhando, lavando e trabalhando cerca de 30 horas por semana. Todo dia recebia uma tarefa nova, era desgastante“, conta a jovem que teve que limpar uma lareira, vidraças, um jogo de talheres de prata e seis pares de botas sujas de lama.

Além da cobrança pelos afazeres domésticos, Bruna também ouviu gritos, intimidações e insultos xenófobos. “Ela [a patroa] me xingava, sugeria que eu era ignorante e preguiçosa. O fato de eu comprar os mesmos produtos que ela no supermercado incomodava. Nunca me senti parte da família, as crianças não me respeitavam. Elas jogavam as coisas no chão e diziam ‘pega escrava‘”.

Outra situação complicada era ter que lidar com o salário incompleto. “Sempre vinha faltando cinco, dez euros. Ela se incomodava quando eu cobrava. Sempre soube o valor do meu trabalho“, conta Bruna.

No entanto, o estopim ocorreu quando a carioca decidiu deixar a casa e teve seu notebook furtado. A condição para devolução era que Bruna lavasse a louça suja (dois copos e dois pratos) que havia ficado na pia da casa onde a jovem morava. “Tive que ligar para a polícia e falar com o marido dela. Ainda ouvi que eu e meu noivo arruinamos a vida dela“.

Assédio sexual

O assédio sexual também aparece como um dos problemas enfrentados por algumas intercambistas, como é o caso da advogada Elisangela Cristina de Carvalho, 39. Após aceitar trabalhar como babá live in (morar na mesma residência) na casa de uma família composta por uma irlandesa, um marroquino e as filhas gêmeas, a estudante enfrentou o cerco de seu chefe, que chegou a mudar o horário de trabalho para poder ficar a sós com ela.

Já no meu primeiro dia de trabalho ele apareceu de cueca na minha frente“, conta a paulistana, que com o objetivo de pagar um novo curso para poder estender sua permanência na Irlanda aceitou o trabalho que apareceu no momento.

E foi em uma manhã que Elisangela teve certeza que estava sendo assediada. “Ele acordou, desceu até a sala de pijama e, de repente, senti um negócio duro nas minhas costas, ele se esfregando em mim. Saí correndo e vesti mais uma calça e mais uma blusa. Tentei me refugiar entre as filhas dele, mas ele ficou durante meia hora andando com o pênis ereto. Não sabia o que fazer.”

Intimidada, sem o pagamento da última semana (125 euros) e com medo de ser abusada sexualmente, a paulistana enviou um e-mail para a mãe das crianças no mesmo dia, disse que não poderia continuar no trabalho, mas não relatou o real motivo. “Tive crise de pânico. Tinha medo da minha sombra, mas preferi não arrumar confusão [denunciar] com esse muçulmano. Quando cobrei meu salário, ele disse que eu queria dinheiro fácil. Fiquei com medo, me hospedei em um hostel e deixei tudo para trás“, conta ela que ainda hoje tem medo de ficar a sós com um homem no mesmo espaço.

Processo trabalhista

Taís Regina da Silva, 33, decidiu trabalhar como au pair quando finalizou um curso de seis meses em Dublin. Assim como outras garotas, encontrou a oferta de trabalho em uma das muitas comunidades do Facebook direcionadas para estrangeiros que moram na Irlanda.

Após acertar que trabalharia 20 horas por semana, cuidaria de três crianças, moraria na casa junto com a família e ganharia 90 euros (abaixo do mínimo), a paulistana foi surpreendida com um e-mail após se mudar para o novo lar. “Além do trabalho como babá, também teria que limpar a casa, que era uma fazenda, cuidar dos cachorros, dos cavalos e cozinhar“.

Depois de um mês, percebi que estava fazendo muitos afazeres domésticos, além das outras atividades. Acordava às 8h e só parava de trabalhar às 22h, quando os pais das crianças voltavam“, conta. Formada em psicologia e administração de empresas, a estudante nunca havia trabalhado como babá antes e não sabia quais tarefas envolviam a função.

A relação com a família se desgastou quando Taís não conseguiu mais administrar suas diversas funções e parou de fazer faxina. “Era discriminada a todo momento. Minha refeição era inferior à do restante da família, não tinha data correta para receber meu salário, muitas vezes tinha que cobrar.”

Ao negar trabalhar em uma de suas folgas, ela foi expulsa da casa e recebeu apenas 70 euros do total de 180 que deveria ter ganhado por duas semanas de trabalho. Acuada e sem moradia, Taís procurou o Centro de Apoio aos Imigrantes e foi orientada a autuar a família. Além do auxílio jurídico, o MRCI também disponibilizou advogados e tradutores.

Meu objetivo nunca foi processar a família para ganhar dinheiro. Só fiz isso porque me senti muito humilhada. A todo momento, eles me tratavam de forma inferior, como se não tivesse nenhuma estrutura emocional e financeira. Como se fosse uma coitada. Aceitei trabalhar como babá pois acreditava que seria uma troca de culturas“, afirmou. Ela ganhou a causa após seis meses.

Não acredite em tudo que dizem

À frente do grupo Au Pair Rights Association Ireland (Associação Irlandesa de Direitos da Au Pair) há cerca de três anos, a brasileira Jane Xavier, 36, pede para que garotas, principalmente, não se enganem com propostas de curso de inglês + trabalho oferecidas por empresas de viagem.

As agências costumam vender o trabalho de au pair ou quando não possuem o serviço dizem que as pessoas podem conseguir empregos como babás e terão casa e comida gratuitos. Essa informação é completamente equivocada. Muitas pessoas chegam à Irlanda com a ilusão de que sendo babás terão salário, cuidarão das crianças e farão serviços leves nas casas. A maioria nem sabe que não existe regulamentação para as atribuições da função no país e muito menos o valor do salário. Existem diversas meninas fazendo limpeza pesada“, afirma Jane, que costuma auxiliar jovens que relatam abusos e aconselha quem deseja vir para a Irlanda a pesquisar a empresas e as condições apresentadas na internet e com associações como a que ela está à frente.

A ativista salienta que o cargo de babá está rotulado na categoria de “trabalhador doméstico“, que também engloba cuidadores e faxineiros. “As babás devem receber o salário mínimo e caso residam na casa dos patrões, eles só podem descontar 54,13 euros por semana (referentes a moradia e alimentação)“, explica Jane, que esclarece ainda que isso foi acordado após uma reunião do MRCI e da associação que participa com o departamento de empregos e empresas do país.

Amanda Serra e Lucas Gabriel Marins, Uol - Via: Pragmatismo Político


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31 Comentários

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A "fama" das brasileiras não ajuda. Devemos isso às propagandas oferecendo sexo fácil no Brasil, ao carnaval etc. (http://epoca.globo.com/colunaseblogs/ivan-martins/noticia/2014/02/quem-tem-bmedo-das-brasileirasb.html)
Cabe a quem quer se expor a uma situação onde tudo pode acontecer, fazer valer na justiça seus direitos. Lá e em qualquer lugar do mundo. continuar lendo

"Fama das brasileiras"
????????????????????????? continuar lendo

Meu deus do céu, ainda bem que temos pálpebras pra poder fechar os olhos e não ler certas coisas duas vezes. continuar lendo

Infelizmente o famoso "turismo sexual" que acontece no Brasil e que é notícia repetitiva a anos acontece baseado nessa teoria. Nunca viu um cartaz "oferecendo" sexo fácil no Brasil como forma de atrair turistas?
Não é o que afirmo. É o que diz a mídia.
Falta uma ação firme do governo federal para punir exemplarmente quem faz esse tipo de propaganda.
Por isso, muitas brasileiras são assediada sexualmente em diversos países. Triste realidade que precisa mudar.
Pesquisem na internet como: A fama das mulheres brasileiras.
O artigo postado nesse enderêço: http://epoca.globo.com/colunaseblogs/ivan-martins/noticia/2014/02/quem-tem-bmedo-das-brasileirasb.html
é apenas um entre muitos.
Por isso coloquei a palavra "fama" entre aspas. continuar lendo

O que você diz é totalmente inaceitável! continuar lendo

Sinceramente, Adriele, inaceitável é você não entender nada e sequer ter o trabalho de pesquisar antes de dar uma reposta como essa.
Que é isso? Espírito grupal? rs continuar lendo

Entendo perfeitamente o que o José Roberto quis dizer. Ele não afirmou que as mulheres brasileiras tem má fama, mas que a mídia vende essa imagem.
Tenho uma cunhada que viaja muito, cerca de 5 países por ano e o comentário dela foi exatamente esse.
Um país que visitou (se não me engano foi Portugal), para eles somos todas prostitutas.
É isso que conseguimos com esse "feriado maravilhoso" chamado Carnaval.
Onde moro é ponto facultativo, porém sempre tem os "belos desfiles". continuar lendo

Pesquisei e o que encontrei foi deprimente: as mulheres brasileiras no exterior são consideradas prostitutas e que gostam muito de sexo (sexo livre, fácil, etc...) Infelizmente o José Roberto está coberto de razão. continuar lendo

Obrigado Mara e Mario.
Eu já estava me sentindo um ET. continuar lendo

http://esporte.uol.com.br/copa/2006/reportagens/prostituicao.jhtm

"Tudo indica que há pouco a se fazer para conter o crescimento do mercado do sexo na ************Alemanha*********** durante a *******Copa***********. Um levantamento no país estima que cerca de 440 mil prostitutas devem oferecer seus serviços aos torcedores que acompanharão o Mundial, sendo que mais ou menos 40 mil delas serão destacadas para a atividade exclusivamente em razão da demanda da competição.
Principalmente na capital Berlim, vai ser difícil desassociar a prostituição da Copa. Bem perto do palco da final do Mundial, apenas a três paradas de trem do estádio Olímpico, se localiza o maior bordel de luxo do continente europeu."

É muito mais fácil cuspir ódio no país onde a gente nasceu e cresceu, não é?
No maior bordel alemão temos olha só 01 brasileira, risos.
Mas deixa eu dar um spoiler: tem prostituta e farra em todo lugar do mundo, indiferente.
As alemãs e as holandesas ainda são muito mal vistas em vários outros países por tambem serem 'libertinas' demais.
Quem mandou dar um google aí, é melhor fazer o serviço direito, pra pesquisar sobre exploração sexual no mundo inteiro, antes de falar a famosa 'porcaria.' continuar lendo

Camie:
Ou você não entende ou não quer entender.
Mas vamos tentar.
As brasileiras são mal vistas no exterior, notadamente na Europa e isso é um fato e não uma mera alegação de quem quer que seja e muito disso tem a ver com o numero assombroso de brasileiras que vivem da prostituição nesses países. Já esteve na Itália? Mesmo na Alemanha o numero de prostitutas brasileiras é muito alto. Não considere o fato de em um bordel ter apenas uma, porque em outros elas serão maioria.
Existem em todo mundo e de todo o mundo? Claro, sem dúvida, mas estávamos falando de Brasil e não de todo o mundo.Deus, a pouco tempo essa notícia estava escancarada em toda a mídia, não é possível que só você não tenha visto.
Os cartazes em agencias de turismo de toda a Europa vendem a imagem do turismo sexual no Brasil. O Carnaval é vendido mais como uma festa de sexo livre do que como uma festa de beleza e ritmo.
O que acontece então com brasileiras na Europa? Muitas são assediadas sexualmente em função dessa triste conclusão (triste e burra) de que se existem muitas prostitutas brasileiras e o carnaval é a festa do nu e do sexo fácil, então TODAS as brasileiras seriam iguais.
Você fechar ou não seus olhos para não ver, é uma opção apenas sua. Vai ficar sem conhecer a verdade e continuar a não entender nada.
Você fazer comparações infantís como fez ou falar em ódio ao país que nasceu, beira o ridículo.
Mas isso é a notícia e não o que penso e aí está o erro do seu julgamento.
Sou casado a mais de 40 anos (com a mesma mulher brasileira), tenho 3 filhas (todas brasileiras) e uma neta (brasileiríssima) e o que lhe atinge, atinge também a elas e claro, a mim.
Quanto a "famosa porcaria" não pare em um único site, porque isso não é pesquisa.
Pesquise fundo, converse com quem já viajou bastante para o exterior e terá a confirmação que precisa.
http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2008/01/080130_pressprostitutas_ba.shtml
http://www.sonhosnaitalia.com/2011/06/imagem-da-brasileira-na-europa.html
http://verdadeiraitalia.blogspot.com.br/2011/01/imagem-da-mulher-brasileira-na-italia-e.html
http://www.criacionismo.com.br/2010/01/desabafo-de-uma-brasileira-na-espanha.html
etc. continuar lendo

Infelizmente, na verdade, os brasileiros ainda são discriminados fora do Brasil. Na real, no exterior, os brasileiros não são bem vistos e não são valorizados. Não é só na Irlanda. continuar lendo

Somos e ainda seremos para muitos apenas meros "colonizados".
Enquanto formos vistos como estando abaixo dos demais...
Enquanto darmos motivos para que achem estarmos abaixo dos demais...
... as coisas continuarão as mesmas. continuar lendo

Tudo isso pra voltar ao Brasil e dizer pras amigas: "Ai morei fora um tempo...", "Ai amiga na Irlanda tudo funciona..."....não sei se compensa, agora uma delas esta traumatizada com Síndrome do Pânico não consegue ficar sozinha com um homem no mesmo espaço? Valeu a pena? Sabemos que não... pra que aprende como os erros dos outros é mais uma lição, mas pra quem diz que "é errando que se aprende", só desejo boa viagem! continuar lendo

Não só isso, Misael.

Mtos vão para fora para tentar ter uma vida melhor, dar melhores condições para a família e acabam sendo enganados. continuar lendo

Não acho correto o tratamento dado, mas se existe uma boa lição a ser dada no caso é essa. Escuto colegas estufando o peito, falando mal do Brasil e dizendo que vão morar no exterior, porque as oportunidades são melhores, ganham mais que engenheiro aqui, etc, etc.
Primeiro que acho que o problema do Brasil é o brasileiro, principalmente este tipo de brasileiro, que não tem orgulho, quer dinheiro fácil. O resultado é esse, quando a pessoa se diminui, os outros diminuem mais ainda. Não é vergonhoso ser engenheiro e ganhar pouco, vergonhoso é querer ser babá, manicure, faxineira, pra ganhar dinheiro fácil. Isso é falta de ambição. continuar lendo

Às vezes, Cristina, não é busca por dinheiro fácil, é busca por melhores condições.
Só que chegam no lugar e veem que as coisas são bem diferentes. continuar lendo